segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

O que Zilda e King tem em comum


Pr. Luther King aqui tem feriado¹, e reuniões em todas as Igrejas Batistas para rememorar o homem que transformou, debaixo de prisões e agreções físicas, os direitos civís na América. Pr. Martin Luther king Jr. teve uma infância vitimada por um dos mais rigorosos regimes de discriminação racial da história: o apartaide. Naquela altura, as chances de se ter um líder negro com tamanha força política eram mínimas.

Antes de sua voz atingir Washigton, em 1961 Martin Luther King Jr. falava a um grupo de estudantes negros totalmente desmoralizados, num país que, naquela época, estava longe de reconhecer seus direitos civis:

Sei o que vocês estão perguntando: “Quanto tempo mais isso durará?” Venho a vocês hoje para dizer que, sejam quais forem as dificuldades do momento, por mais frustrantes que sejam estas horas, não demorará muito, pois a verdade que foi jogada sobre a terra germinará novamente.

Quanto tempo? Não muito, porque mentira alguma dura para sempre. Quanto tempo? Não muito, por que ainda se colhe o que se planta. Quanto tempo? Não muito por que o braço da moral é longo, mas se dobra em direção à justiça. Quanto tempo? Não muito, por que meus olhos viram a glória do Senhor que virá, pisoteando as vinhas onde estão plantadas as uvas da ira. Sua verdade está marchando. Ele já deu ordem às trombetas que soem, as quais nunca chamarão as tropas para recuar. Ele está levantando os corações dos homens diante do seu trono. Ó, minha alma, seja rápida em responder-lhes. Alegrem-se meus pés. Nosso Deus está marchando.

(Extraído de The New Yorker, 6 de Abril de 1987)

Quando Zilda Arns iniciou seus trabalhos há 30 anos no interior de Santa Catarina, queria, através da informação, combater a desnutrição e a mortalidade infatil nos bolsões de pobreza no Brasil começando por sua região. Quem conhece essa realidade, pode imaginar a impossibilidade dessa ação gerar algum resultado visível... De certo, Zilda não pensou que com isso poderia ser indicada ao Nobel ou que um dia de fato sua tentativa de ajudar famílias com tudo o que tinha (força no braço, voz branda, conhecimento científico e muita fé) iria inpirar 258 mil voluntários por todo o Brasil. A voz branda com o poderoso discurso de um Deus que jamais será indiferente a dor, atravessou fronteiras e também chegou ao Haiti. Zilda não foi para Porto Príncipe movida pelas chocantes imagens veiculadas pela mídia pós terremoto, não foi afim de ter seu trabalho reconhecido mundialmente ou de “melhorar a imagem do Brasil lá fora”. O terremoto que também a vitimou nesse ultimo dia 14 de janeiro, aconteceu quando Zilda dava uma palestra² para 150 líderes religiosos haitianos na tentativa de multiplicar modelos que no Brasil deram certo e amenizar o sofrimento de crianças e famílias que há decadas esperam por um socorro que muitas vezes está em soluções simples como um composto vitamínico ou num diálogo familiar.

Falo de pessoas que não param para pensar no que elas “poderiam” fazer, mas simplesmente reagem aquilo que consideram inconcebível e inaceitável. Falo daqueles que temos como expressão dessa fé – “somo feitos a imagem e semelhança de Deus Pai”, como Zilda Arns e o Pr. Luther King e dos milhares anonimos voluntários, seres humanos ditos “especiais”.

Aqui não se tem por hábito canonizar aqueles que foram autênticos cristãos (dentro da tradição romana, chamdos de “santos”), mas como toda sociedade idólatra, corre o mesmo risco de colocar essas figuras em pedestais jamais atingíveis pelos cidadãos comuns. Enquanto, tudo o que fizeram foi pelo fato de estarem revestidos da mais autêntica humanidade, em reconhecer no outro o seu perfeito semelhante e a perfeita semelhança daquele que nos criou igualmente necessitados. Por favor não canonizem a Zilda! Não a ponham paralizada em um altar, estática a contemplar o sofrimento. Que seus exemplos sejam motivadores de iniciativas simples, práticas e acessíveis, como o evangelho nos desafia ser.

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1. Esse dia aqui nos EUA foi denominado de “o dia do serviço”, onde todas as intituições são motivadas a prestar serviços às comunidades gratuitamente.

2. Trecho do último discurso de Zilda Arns. http://www.fantastico.globo.com/Jornalismo/FANT/0,,MUL1451557-15605,00-VEJA+TRECHOS+DO+ULTIMO+DISCURSO+DE+ZILDA+ARNS+ANTES+DE+MORRER.html

sábado, 9 de janeiro de 2010

HOLLY-DAYS


O Thanks Given para mim é completamente novo, visto que não o temos no Brasil. “Reza a lenda” que esse foi o dia em que os colonizadore se contrafernizaram com os índios para agradecer a Deus por um país livre e fértil. Hoje o TG permanece com uma aura “sagrada”, onde a maioria das familias americanas se reúne ao redor de uma farta mesa, dão as mãos e fazem orações de gratidão. Nos jornais, as igrejas divulgam suas boas ações: geralmente distribuição gratuita de toneladas de Perus (a ave símbolo da data). Este ano, esse feriado caiu numa quinta-feira, mas para minha surpresa... eles enforcam a Sexta!!! (confesso que gosto disso) – Bom.. na verdade, gostaria de falar sobre devoção... e, entre os americanos é tão grande, que eles não dormem de quinta para sexta-feira, simplesmente acampam, talvez como os antigos judeus faziam para rememorar a páscoa, só que não para comer ervas amargas ou lerem algum livro sagrado a luz de velas, os americanos do sec. XXI passam a noite em claro em frente as lojas ávidos pelas promoções. O dia de sexta-feira aqui se chama Black Friday! É talvez o dia da maior promoção do ano. Artigos eletro-eletrônicos, domésticos, roupas... Tudo com até 80% de desconto! Niguém aqui é suficientemente herege para resistir ao Black Friday. Dizem que ano passado uma pessoa morreu pisoteada na entrada de uma loja, e olha que aqui nem é a Meca.

Bom.. Nesse dia eu trabalhei. Fui com o meu chefe levar as crianças para ver a Macy’s Parade. Algo que para a maioria dos Brasileiros, acostumados com as luxuosas alegorias da Sapucaí, pode ser terrivelmente frustrante – umas bandinhas com aquelas meninas de torcida de futbol americano dançando enquanto balões gigantes de personagens de cartoon flutuam sobre nossas cabeças. Seria frustrante para mim também se não fosse por um dos balões e carrinhos a desfilarem ser da Turma do Charlie Brown (que eu amo!) com um gigante balão do Snoopy todo vestido de inverno, pronto para patinar no gelo rsrs. A parada se inicia na rua ao lado do Central Park e termina em frente a Macys da 34St, onde milhares de pessoas vindas de toda a parte dos EUA aguardam a chegada de Santa Claus debaixo de um letreiro luminoso gigante escrito: I BELIEVE. É como se fosse um “Boas-vindas” para o Natal.

Não se sabe muito bem no que os americanos acreditam. Dias antes do Natal, saí com duas amigas japonesas. Uma delas mora em Tokio e só passava as ferias aqui em NY. De repente Mari (o nome dela) me pergunta se sou cristã, ao q estranho a pergunta, por que em NY ninguem fala sobre religião... é como um “assunto proibido”, ao que respondo – sim, sou cristã, porque? Ela sorriu e disse “nada não, é que vi ali enfeites de natal e pensei: christmas – Christ...."

Bem lembrado. Sorri e concordei: sim, o Natal é uma festa cristã ;} – em minha mente: “pelo menos, should be...”.

Três semanas após o Thanks Given, chega o Natal e “já deu no New York Times” que Papai Noel nasceu em NYC! A cidade que já é normalmente cheia, fica intrafegável. Turistas do mundo inteiro vem para ver a Big Tree do Rockfeller Center, a Big Snow da quinta avenida e a Big Sale do dia 26!

Dizem que no Brasil temos muitos feriados, mas não vi muita diferença aqui. Claro, aqui os devotos de Nossa Senhora do A, do B, do C e do Ó não desfrutam de feriados, e nem se tem tantos santos como no Brasil... na verdade, outros ídolos ocupam o mais elevado lugar nos altares americanos. O consumo sem dúvida é o mais poderoso deles. Assim, o ano aqui se encerra, com 3 grandes feriados que conseguem parar a “cidade que nao dorme”, e dois deles dias santos: Thanks Given, Christmas e New Year. *O próximo promete, se não um reavivamento de qualquer fé genuína, uma oportunidade de pensar em algum outro valor que não seja o monetário.

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*January, 19. Martin Lutter King Jr. Day.