segunda-feira, 24 de maio de 2010

Primeira Página

by Norman Rockwell



Hoje conheci a redação do The New York Times.


Fui recebida por uma jornalista brasileira a quem importunei por quase 2 meses – mas isso por que ela disse ser uma virtude, a minha perseverança -. Visivelmente cansada pela montanha de ocupaçoes que a função de repórter da editoria de cidade (“Metro”) requer, e com um pouco de pressa, provavelmente devido ao mesmo motivo, ela me levou direto ao que chama de “coração do TNYT”, o andar onde as principais editorias se reúnem para discutir pautas e fechar matérias.
- aquele ali, com um chapéu e roupa diferente, é meu editor, ele é uma espécie de “acquired taste” – quando a pessoa é estranha, mas você vê que consegue gostar depois que conhece melhor.
Rápido uma senhora elegante, looks like chanel, passa pela gente e Fernanda me diz: - essa é a segunda editora-chefe, a segunda mais poderosa, digamos assim...
Logo depois passamos por uma mesa com cerca de 6 “tanques” inoxs rsrs - Ana, você quer um cafezinho? – Claro! Respondi – e imagino que meus olhos brilharam, mais do que quando vi a segunda mais poderosa do impresso. Um “troço” desses na TV onde eu trabalhava – falo dos containers inoxs cheios de café - iamos pensar que era o céu! Imagino que lá o café nunca acaba!
Cidade, Nacional, Internacional... Chegamos e estava acontecendo uma reunião na parte onde trabalha a editoria internacional. A maioria das editorias já encerrara suas reuniões e o proximo passo então seria apresentar as principais manchetes e resumos das notícias aos editores-chefes na acirrada disputa por quem ocupará a primeira página de amanhã. Isso me soou às reuniões do New York Daily Bugle... Nesse caso, conseguir a primeira página, só com a foto do Homem Aranha em ação! O problema é que o próprio fotojornalista (Peter Parker) era o homem da teia... Por que será que os super-heróis americanos mantem identidade secreta debaixo da profissão de jornalista? Melhor nem pensar, mas por falar em Peter Parker, todas as paredes da redação carregavam quadros de fotografias que ilustraram ediçoes passadas do Jornal. Procurei pelos cartoons na esperança de ver alguma coisa do Norman R. por lá, mas não vi.
Ao terminar a rápida visita, Fernanda mensionou alguma coisa como “decepção”... dizendo que talvez eu pudesse estar decepcionada ao conhecer a redação do TNYT e ver que não tem nada de mais... “só um monte de gente sentada em cadeiras em frente a computadores...” e pondero... Poderia dizer que é uma redação comum, bem parecida com as demais no Brasil, se não fosse o tamanho da estrutura (predio) e o alcance, não só em termos geográficos, mas principalmente pela influencia que esse jornal tem em todo o Mundo, sem esquecer que a América é o berço da indústria jornalística e um modelo de estrutura jornalística praticado ao redor do mundo durante todo o sec. XX – editorias, gates keepers, agenda settings e J.J. Jamesons originaram-se aqui e isso tudo se tornou visível pra mim na tarde de hoje. Confesso que a sensação que tive foi a mesma de quando entrei no MASP em São Paulo pela primeira vez e vi, ao vivo e a cores, as pinturas de Tarcila do Amaral, o auto-retrato de Anita Malfati e as inacreditáveis obras de Portinari, cujos quadros são na realidade bem maiores do que os que eu havia pendurado nas paredes da minha imaginação.


Em tempo,
Fernanda Santos é uma brasileira, baiana, que trabalha lá há 5 anos como jornalista do Metro – área que cobre toda NY e NJ. Além de super legal, super paciente, é super inteligente. poderia perfeitamente inspirar os quadrinistas da Marvel com um personagem digno de primeira pagina :)