domingo, 12 de dezembro de 2010

Quando tudo parece perdido.

Ilustra: by Norman Rockwell

Passei a maior parte do verão sem grana. Os Ragan mudaram para uma casa em Hampton e não precisariam lá dos meus modestos serviços. Peguei minha bicicletinha e comecei a peregrinação por lojas, restaurantes e qualquer estabelecimento que aceitasse uma jornalista como vendedora, balconista, garçonete or wathever desse algum dolarzinho para pagar minhas contas.

Que a América está em crise, todo mundo sabe, mas a gente só acredita mesmo quando vê que não consegue emprego nem de lava-pratos depois de uma dura busca! Para aliviar a barra, passei a dar aula particular de violão para duas mocinhas em Kurnie. Saio das aulas e a busca recomeça, agora, com um violão nas costas. Quem não sabe da situação pensa que sou uma turista endinheirada que veio conhecer a diversidade musical em NY. O violão, definitivamente, era um charme desnecessário. As cidades circunvizinhas acabaram e precisei deixar a bike no canto e ir para a estação mais próxima pegar um onibus rumo a outra região um pouco mais distante. Morta de cansada, um peruano vê o violão e começa a “cantar” – “Olá, como estás? Tocas la guitarra? Donde es? Tienes novio?” – E haja perguntar... Cansei! Peguei o primeiro onibus que vi na frente!

- Passa na Oriente way, esquina com um 7eleven? – perguntei ao motorista.

- Sy, ma’m!

Aliviada, entrei rapidamente e sentei relaxada.

Passaram-se uns 30 minutos e o motorista me avisa para descer. Vi “Orient Way” escrito na placa da esquina, vi o 7eleven na outra, mas definitivamente não era aquele o lugar. Deveria ter pensado nisso antes. Assim como no Brasil toda cidade tem uma rua Presidente Vargas, aqui todas as cidades tem uma Orient Way, Palisade Avenue ou Jorge Washington... Desci com cara de paisagem e um Indiano atento logo percebe que eu estava perdida!

- Para onde você está indo?

(Naquela altura só queria voltar pra casa)

-Lyndhurst! Você sabe como faço para chegar lá?

- Ah.. Você pegou o ônibus errado... estamos muito longe de lá... e não sei de nenhum ônibus aqui que passe por lá... a não ser que você siga essa rua – “essa rua” era uma rodovia que meus olhos não conseguiam alcançar o fim. Ele continuou: - Você vai ter que andar bastante... – como se isso fosse de fato uma grande revelação que me ajudaria a perseverar.

- Então é melhor eu começar, falei já com pressa de andar mas com um sorrisinho amistoso.

Uns 15 passos já dados, o Indiano me chama: - Ms! Espera! Acho que posso levar você. Me segue!

Naquela hora eu era uma estrangeira boba, perdida e sem grana nem para um Taco! A rua estava deserta, a tarde estava caíndo e eu nunca tinha visto aquela pessoa na minha vida... Pensei “ou é um psicopata que vai me violentar e me matar daqui umas milhas por eu ser guitarrista – manchete de amanhã “BRAZILEIRA É ENCONTRADA MORTA COM OS DEDOS DECEPADOS”, e aí, de novo a guitarra não ajudou – ou ele é algum gurú indiano ávido para conquistar o objetivo final de sua salvação e cumprir seu karma fazendo boas ações – título para o diário de Poliana “O DIA EM QUE APRENDI TOCAR CITARA”, e aí a guitarra vai pesar menos.

Vi que ele apontava para direção oposta e logo pergunto: “para onde vamos?”

- Vamos à minha casa. Fica logo ali. Pego meu carro e levo você em casa.

Decidi arriscar meu corpinho exausto e minha guitarra amarela. Dinheiro, eu não tinha mesmo! Caminhamos cerca de 4 quadras num silêncio religioso. Ao chegar na frente de uma casa bem antiga, com a tintura cor de salmão já descascando, ele pára e diz: - é aqui! Vou lá dentro falar com minha esposa e já volto.

Eu parei na calçada e disse apavorada: - Ok! Eu espero aqui.

Alguns minutos depois, uma linda moça vestindo um sari lilás abre a porta e desce as escadas segurando firme a mão de uma menininha que não pára de falar e sorrir para mim, como se estivesse muitíssimo curiosa com a situação. Adoraria saber o que elas falavam, mas era um dialeto indiano totalmente distante de qualquer som da raíz romana. A moça do sari se aproxima de mim e diz sorrindo: “não se preocupe, vamos levar você em casa”. Ela abre rapidamente o carro, pede para que eu sente no banco da frente, ela assume a direção ao que o marido ajuda a menininha a sentar no banco traseiro, sentando-se também ele ao lado dela. Durante a viagem, a única pergunta que eles me fazem com toda a gentileza do mundo foi: “Para onde você quer que a gente leve você?”.

Eles me deixaram na porta da minha casa e eu não sabia sequer o que dizer, por que um simples “thank you” , ainda que seguido de “very much”, seria muito pouco. Quando li no adesivo colado no vidro do carro “God bless America”, sorri, olhei para os dois, e disse “God bless you! Ever!”, ao que eles abaixaram as faces como um sinal de retribuição.

Ele mesmo retirou minha guitarra do bagageiro e disse: “não esqueça sua guitarra!”. Quase eu pergunto “o senhor sabe tocar citara?”.

Entrei em casa tão feliz naquele dia por tudo o que aconteceu, pela vida daquele “guru” e sua família. E até por eu ter me perdido... Por que se não fosse isso eu jamais teria conhecido a família, que confesso, de tão complicado o nome, realmente não me lembro. Pelo cuidado de Deus na minha vida, que mais uma vez me provou que, quando tudo parece perdido, é aí que as coisas começam a ganhar maior sentido e a ficar muito mais (ainda que assustadoramente) interessantes!

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Eat, Pray, Love and Dream

Ilustra: by Norman Rockwell

- A partir de que momento, de acordo com a escritora, o ser humano vai se tornando em triste e solitário? - Pergunta o jornalista da TV Cultura numa entrevista à Clarisse Lispector. Clarisse silencia por largos segundos e diz: ...isso é segredo... Desculpa, eu não vou responder. A qualquer momento da vida... Basta um choque inesperado e isso acontece... Mas eu não sou solitária não, tenho muitos amigos...e só estou triste hoje, porque estou cansada. No geral, eu sou alegre". é quando ela fixa o olhar para baixo e se encerra em silêncio.

Com o inquietante silencio de Clarice na memoria (por culpa da Ana Peluso que postou a entrevista ontem), Elizabeth Gilbert de volta com sua Itália, Índia e Bali, e ainda ouvindo a missa cubana de volta pra casa, precisava tentar escrever. Isso tinha que me fazer escrever de novo!

“É melhor ser alegre do que triste, mas pra fazer um samba com beleza é preciso um bocado de tristeza senão não se faz um samba não...” já disse o Vinícios no seu "samba da bênção", que por sinal salvou a cena de Liz com o ator espanhol , que jamais convencerá como brasileiro. Aliás, nem a Julia Robert ainda me conseguiu convencer como Liz, mas o que quero dizer é que tudo isso me traz de volta ao ponto de partida, digo, da minha partida. À decisão que tomei de sair da minha cidade, do País, sozinha, sem muita grana e sem nenhum “plano” para além de aprender a língua anglossaxã (pareço um germano falando rs).
O fato é que exatamente no dia primeiro de Setembro faz um ano que cheguei aqui e posso dizer que, além de tudo o que escrevi anteriormente aqui nesse paciente blog (muito pouco, eu sei), passei por muitos momentos punks. Momentos de perder todas as esperanças e chorar sozinha, ou pensando que estava sozinha. Mas sei que nunca estamos sós. Ele sempre está perto com a sua voz que de tão silenciosa é inconfundível, agindo em detalhes desde o inverno ao verão como seu Sol que brilhantemente me ilumina e me traz dias como o de hoje em que volto a acreditar no “super-natural” (a designação inglesa para o sobrenatural), passo a acreditar que realmente tudo é possível para aquele que crê, “ basta comprar o bilhete”! – quem leu o livro sabe do que estou falando.

Ontem encontrei com minha ex-professora de música na net. Ela é cubana mas vive em Belém há mais de 10 anos. Passamos mais de 1h pela madrugada trocando idéias sobre as mudanças que gostaríamos de ver na nossa cidade, Belém, “a eufrata, que de todas a menor”, a exemplo da de Judá. Pode ainda vir alguma esperança de lá? E no meio da conversa, encontramos nossos sonhos de acreditar na beleza da música, da arte, da fé das pessoas e de achar que tudo isso é divino. Entendi que o que desejo é transformar cada centímetro, dentro e fora de mim, em divino. Sei que, na prática, nada disso é romântico assim, mas agora posso entender quando o profeta, imerso por desgraça e condenação, consegue ver toda a Terra cheia da glória de Deus. Quero ter essa visão de novo e viver por ela. Na Índia, no Afeganistão, na Polônia, em todo o lugar... Quero ver a esperança viva em cada ser humano e de novo exerga-lo a perfeita imagem e semelhança de um Deus de plena Paz e perdão.

segunda-feira, 24 de maio de 2010

Primeira Página

by Norman Rockwell



Hoje conheci a redação do The New York Times.


Fui recebida por uma jornalista brasileira a quem importunei por quase 2 meses – mas isso por que ela disse ser uma virtude, a minha perseverança -. Visivelmente cansada pela montanha de ocupaçoes que a função de repórter da editoria de cidade (“Metro”) requer, e com um pouco de pressa, provavelmente devido ao mesmo motivo, ela me levou direto ao que chama de “coração do TNYT”, o andar onde as principais editorias se reúnem para discutir pautas e fechar matérias.
- aquele ali, com um chapéu e roupa diferente, é meu editor, ele é uma espécie de “acquired taste” – quando a pessoa é estranha, mas você vê que consegue gostar depois que conhece melhor.
Rápido uma senhora elegante, looks like chanel, passa pela gente e Fernanda me diz: - essa é a segunda editora-chefe, a segunda mais poderosa, digamos assim...
Logo depois passamos por uma mesa com cerca de 6 “tanques” inoxs rsrs - Ana, você quer um cafezinho? – Claro! Respondi – e imagino que meus olhos brilharam, mais do que quando vi a segunda mais poderosa do impresso. Um “troço” desses na TV onde eu trabalhava – falo dos containers inoxs cheios de café - iamos pensar que era o céu! Imagino que lá o café nunca acaba!
Cidade, Nacional, Internacional... Chegamos e estava acontecendo uma reunião na parte onde trabalha a editoria internacional. A maioria das editorias já encerrara suas reuniões e o proximo passo então seria apresentar as principais manchetes e resumos das notícias aos editores-chefes na acirrada disputa por quem ocupará a primeira página de amanhã. Isso me soou às reuniões do New York Daily Bugle... Nesse caso, conseguir a primeira página, só com a foto do Homem Aranha em ação! O problema é que o próprio fotojornalista (Peter Parker) era o homem da teia... Por que será que os super-heróis americanos mantem identidade secreta debaixo da profissão de jornalista? Melhor nem pensar, mas por falar em Peter Parker, todas as paredes da redação carregavam quadros de fotografias que ilustraram ediçoes passadas do Jornal. Procurei pelos cartoons na esperança de ver alguma coisa do Norman R. por lá, mas não vi.
Ao terminar a rápida visita, Fernanda mensionou alguma coisa como “decepção”... dizendo que talvez eu pudesse estar decepcionada ao conhecer a redação do TNYT e ver que não tem nada de mais... “só um monte de gente sentada em cadeiras em frente a computadores...” e pondero... Poderia dizer que é uma redação comum, bem parecida com as demais no Brasil, se não fosse o tamanho da estrutura (predio) e o alcance, não só em termos geográficos, mas principalmente pela influencia que esse jornal tem em todo o Mundo, sem esquecer que a América é o berço da indústria jornalística e um modelo de estrutura jornalística praticado ao redor do mundo durante todo o sec. XX – editorias, gates keepers, agenda settings e J.J. Jamesons originaram-se aqui e isso tudo se tornou visível pra mim na tarde de hoje. Confesso que a sensação que tive foi a mesma de quando entrei no MASP em São Paulo pela primeira vez e vi, ao vivo e a cores, as pinturas de Tarcila do Amaral, o auto-retrato de Anita Malfati e as inacreditáveis obras de Portinari, cujos quadros são na realidade bem maiores do que os que eu havia pendurado nas paredes da minha imaginação.


Em tempo,
Fernanda Santos é uma brasileira, baiana, que trabalha lá há 5 anos como jornalista do Metro – área que cobre toda NY e NJ. Além de super legal, super paciente, é super inteligente. poderia perfeitamente inspirar os quadrinistas da Marvel com um personagem digno de primeira pagina :)

sábado, 3 de abril de 2010

Easter - Páscoa - Pessach - Passagem...

Ilustra: Norman ever...


Meu novo quarto é legal! Beeem pequenininho... Mas pra quê preciso maior? Cabendo o meu corpo estirado é o que importa. E ele cabe legal. A cama é boa!
A dona da casa é uma cearense chamada Maria. Ela mora aqui ha mais de 30 anos. Seu marido fugiu com a melhor amiga e a deixou sozinha cuidando dos 6, isso, seis! Filhos. Ela trabalha como faxineira, como milhares de brasileiras aqui, e... "housekipers" aqui ganham um justo salário. Conseguiu criar os seis filhos e comprou uma big casa. Os filhos casaram, saíram de casa e agora ela aluga os quartos para estudantes. Uma forma que encontrou para não ficar muito sozinha e ganhar uma grana extra.
Meu quartinho... tem cortinas vermelhas, paredes amarelas e uma cestinha azul para roupa suja. A cidade se chama Lindyhust. Hoje a Maria achou que passo muito tempo sozinha e sismou de me levar na casa de uma das filhas para um cafezinho. Quando chego lá, uma TV Hi definition está ligada na maldita Rede Globo! Que novela idiota é essa do Manoel Carlos?! Meus Deus!! O cara vive em que planeta pra escrever aquilo? E pior! Maldade por maldade, prefiro mil vezes “a vida como ela é” nas letras de Nelson Rodrigues. E depois ainda assistiram a insanidade do Zorra Total! O que é isso que chamam de comédia nacional? A verdade é que me senti mal por não conseguir ver essas coisas e preferir ficar sozinha no silencio do meu quartinho em Lindyhurst. Que tipo de pessoa chata me tornei? Nem sei o que pensar...
Meu novo quarto, tem um estreito armário de duas portinhas, onde tudo coube (roupas, sapatos, algumas caixas), vi a multiplicação dos espaços. Será que meu armário se expande? É.. decidi ficar mais tempo do que o planejado. E como havia acertado com minha tia, ficar só seis meses na casa dela, precisei “capar o gato” no sétimo... – que expressão é essa “capar o gato”? coitado do pobre... -. Vim parar aqui em Lindyhurst (gosto desse nome) com a dona Maria que é uma pessoa impressionantemente boa. Se o que aconteceu com ela, tivesse acontecido comigo... Não sei, acho que “capava o gato” LITERALMENTE e não confiaria mais em ninguém. Ela não. Encarou “a vida como ela é” e hoje vive bem com seus 07 netos. Não mais com os 6 filhos... Um, o mais novo, passe away fazem 9 anos hoje. Ela me disse isso, assim, olhando para o fundo da xícara de café preto na mesa da cozinha - não sei se para esconder os olhos marejados ou se realmente o fundo da xícara lhe abria uma janela para o passado... - que para ela, é como se fosse ontem. Ainda sofre. Mas o fato é que continuou, a vida, confiando em Deus e no mundo. Gosto disso.

sexta-feira, 26 de março de 2010

5th Avenue. Spring, March 2010.

Ilustra: Normam Rockwell

Entrei pela primeira vez na igreja de St. Patrick.
A verdade é que, com os dias contados para ter que sair da casa onde estou e sem grana pra alugar quarto algum, precisava de um lugar silenicioso pra pensar, orar... mas lugar silencioso em alta Manhattan, so um milagre daqueles bem grandes! – talvez maior do que conseguir o quarto.

Quando penso em “silêncio” me vem sempre a mente 3 lugares: 1. um grande antigo cemitério - eles sempre tem bancos gelados pra sentar e arvores com sombra larga; 2. um templo budista – claro, se eu estivesse no centro de Pequim talvez encontrasse um, mas em plena 6th Ave.... maybe! In NYC everything is possible! Mas não... entrei no terceiro lugar mais silencioso da Terra: uma igreja católica.

Por que os templos se parecem com cemitérios ou mausoléus e sepulcros são iguais a templos? nao sei...

O problema é que essa não é uma igreja católica qualquer. Essa é a St. Patrick Cathedral em semana de St. Patrick’s day! Quanta gente entrando e saindo, quantos flashes estalando e brilhando ao mesmo tempo. Os santos dos vitrais pedem por sunglasses quando o brilho das máquinas parece concorrer com o sol de inicinho de primavera. “Quem sabe quando a missa começar...”, penso na esperança de me ver livre das dezenas de turistas que circulam pelos corredores da catedral.

Sentada em um dos bancos ao centro da igreja tento relaxar, estico minhas pernas por cima do murinho de se ajoelhar, encosto minha nuca na madeira do baixo acostamento e olho para o teto – verdade, bancos de templos costumam ser mais desconfortaveis do que os bancos de cemitério, talvez por isso os budistas se alongam e despensam cadeiras. No lugar onde imaginamos encontrar criativos e sensuais arfrescos sobre o céu e o inferno, enxergo as gigantes laranjas da Flórida ou algo mais parecido com as abóboras de halloween, bem maduras e envoltas por relvas de concreto cinza. Tento imaginar por que cargas d’água o artista decorou a o teto da igreja com abóboras? Por outro lado me sinto confortável de nao me confrontar com os olhares “esquisitos” de anjinhos barrocos peladinhos a me perseguirem.

Depois de passar alguns minutos interrogando-me a respeito das aboboras de St. Patrick, passo a olhar mais a diante. Acima do altar principal, quatro pratos de cobre estão suspensos com chuveirinhos de cordas pretas penduradas. Realmente não faço idéia do que sejam, se são símbolos ou algum simples utilitário medieval... Insensários talvez...

Levanto a cabeça e me sento direito. Olho para o fundo do templo. Essa foi a visão mais interessante do dia! O gigantesco órgão que fica acima da principal porta de entrada em frente ao mais fabuloso vitral que já vi na vida! Como mozaicos de diamentes turqueza e escarlate. Divino! Baixando os olhos enxergo muçulmanos entrando no templo para fotografar... Penso em como é impressionante o poder da beleza e como ela quebranta barreiras e começo a pensar nos motivos que tornaram a beleza um conceito por demais subjetivo e até diluído no pensamento moderno, mas alguns fatos me fazem acreditar q a verdadeira beleza consegue ser tão absoluta e universal quanto a própria divindade, e que nem a mais doentia mente moderna o conseguiria obscurecer. Como o “sublime” referente.

Olho para a entrada novamente e me assusto. Do outro lado da rua o Hércules com seus músculos de bronze a sustentar o mundo nas costas e com fúria parece querer atirar o globo de aros contra a frente da catedral!

Alberto Caeiro! Onde estás vós que não desanuvias minhas ilusões??

Preciso esvaziar a mente dos burburins, do transito, das pegadas que fazem mais barulho do que os turistas no mármore da catedral e suas máquinas de última geração, das preocupações e das abóboras também. Vou fechar os olhos!

(Sou protestante. Rezo de olhos fechados).

See you soon!
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segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

O que Zilda e King tem em comum


Pr. Luther King aqui tem feriado¹, e reuniões em todas as Igrejas Batistas para rememorar o homem que transformou, debaixo de prisões e agreções físicas, os direitos civís na América. Pr. Martin Luther king Jr. teve uma infância vitimada por um dos mais rigorosos regimes de discriminação racial da história: o apartaide. Naquela altura, as chances de se ter um líder negro com tamanha força política eram mínimas.

Antes de sua voz atingir Washigton, em 1961 Martin Luther King Jr. falava a um grupo de estudantes negros totalmente desmoralizados, num país que, naquela época, estava longe de reconhecer seus direitos civis:

Sei o que vocês estão perguntando: “Quanto tempo mais isso durará?” Venho a vocês hoje para dizer que, sejam quais forem as dificuldades do momento, por mais frustrantes que sejam estas horas, não demorará muito, pois a verdade que foi jogada sobre a terra germinará novamente.

Quanto tempo? Não muito, porque mentira alguma dura para sempre. Quanto tempo? Não muito, por que ainda se colhe o que se planta. Quanto tempo? Não muito por que o braço da moral é longo, mas se dobra em direção à justiça. Quanto tempo? Não muito, por que meus olhos viram a glória do Senhor que virá, pisoteando as vinhas onde estão plantadas as uvas da ira. Sua verdade está marchando. Ele já deu ordem às trombetas que soem, as quais nunca chamarão as tropas para recuar. Ele está levantando os corações dos homens diante do seu trono. Ó, minha alma, seja rápida em responder-lhes. Alegrem-se meus pés. Nosso Deus está marchando.

(Extraído de The New Yorker, 6 de Abril de 1987)

Quando Zilda Arns iniciou seus trabalhos há 30 anos no interior de Santa Catarina, queria, através da informação, combater a desnutrição e a mortalidade infatil nos bolsões de pobreza no Brasil começando por sua região. Quem conhece essa realidade, pode imaginar a impossibilidade dessa ação gerar algum resultado visível... De certo, Zilda não pensou que com isso poderia ser indicada ao Nobel ou que um dia de fato sua tentativa de ajudar famílias com tudo o que tinha (força no braço, voz branda, conhecimento científico e muita fé) iria inpirar 258 mil voluntários por todo o Brasil. A voz branda com o poderoso discurso de um Deus que jamais será indiferente a dor, atravessou fronteiras e também chegou ao Haiti. Zilda não foi para Porto Príncipe movida pelas chocantes imagens veiculadas pela mídia pós terremoto, não foi afim de ter seu trabalho reconhecido mundialmente ou de “melhorar a imagem do Brasil lá fora”. O terremoto que também a vitimou nesse ultimo dia 14 de janeiro, aconteceu quando Zilda dava uma palestra² para 150 líderes religiosos haitianos na tentativa de multiplicar modelos que no Brasil deram certo e amenizar o sofrimento de crianças e famílias que há decadas esperam por um socorro que muitas vezes está em soluções simples como um composto vitamínico ou num diálogo familiar.

Falo de pessoas que não param para pensar no que elas “poderiam” fazer, mas simplesmente reagem aquilo que consideram inconcebível e inaceitável. Falo daqueles que temos como expressão dessa fé – “somo feitos a imagem e semelhança de Deus Pai”, como Zilda Arns e o Pr. Luther King e dos milhares anonimos voluntários, seres humanos ditos “especiais”.

Aqui não se tem por hábito canonizar aqueles que foram autênticos cristãos (dentro da tradição romana, chamdos de “santos”), mas como toda sociedade idólatra, corre o mesmo risco de colocar essas figuras em pedestais jamais atingíveis pelos cidadãos comuns. Enquanto, tudo o que fizeram foi pelo fato de estarem revestidos da mais autêntica humanidade, em reconhecer no outro o seu perfeito semelhante e a perfeita semelhança daquele que nos criou igualmente necessitados. Por favor não canonizem a Zilda! Não a ponham paralizada em um altar, estática a contemplar o sofrimento. Que seus exemplos sejam motivadores de iniciativas simples, práticas e acessíveis, como o evangelho nos desafia ser.

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1. Esse dia aqui nos EUA foi denominado de “o dia do serviço”, onde todas as intituições são motivadas a prestar serviços às comunidades gratuitamente.

2. Trecho do último discurso de Zilda Arns. http://www.fantastico.globo.com/Jornalismo/FANT/0,,MUL1451557-15605,00-VEJA+TRECHOS+DO+ULTIMO+DISCURSO+DE+ZILDA+ARNS+ANTES+DE+MORRER.html

sábado, 9 de janeiro de 2010

HOLLY-DAYS


O Thanks Given para mim é completamente novo, visto que não o temos no Brasil. “Reza a lenda” que esse foi o dia em que os colonizadore se contrafernizaram com os índios para agradecer a Deus por um país livre e fértil. Hoje o TG permanece com uma aura “sagrada”, onde a maioria das familias americanas se reúne ao redor de uma farta mesa, dão as mãos e fazem orações de gratidão. Nos jornais, as igrejas divulgam suas boas ações: geralmente distribuição gratuita de toneladas de Perus (a ave símbolo da data). Este ano, esse feriado caiu numa quinta-feira, mas para minha surpresa... eles enforcam a Sexta!!! (confesso que gosto disso) – Bom.. na verdade, gostaria de falar sobre devoção... e, entre os americanos é tão grande, que eles não dormem de quinta para sexta-feira, simplesmente acampam, talvez como os antigos judeus faziam para rememorar a páscoa, só que não para comer ervas amargas ou lerem algum livro sagrado a luz de velas, os americanos do sec. XXI passam a noite em claro em frente as lojas ávidos pelas promoções. O dia de sexta-feira aqui se chama Black Friday! É talvez o dia da maior promoção do ano. Artigos eletro-eletrônicos, domésticos, roupas... Tudo com até 80% de desconto! Niguém aqui é suficientemente herege para resistir ao Black Friday. Dizem que ano passado uma pessoa morreu pisoteada na entrada de uma loja, e olha que aqui nem é a Meca.

Bom.. Nesse dia eu trabalhei. Fui com o meu chefe levar as crianças para ver a Macy’s Parade. Algo que para a maioria dos Brasileiros, acostumados com as luxuosas alegorias da Sapucaí, pode ser terrivelmente frustrante – umas bandinhas com aquelas meninas de torcida de futbol americano dançando enquanto balões gigantes de personagens de cartoon flutuam sobre nossas cabeças. Seria frustrante para mim também se não fosse por um dos balões e carrinhos a desfilarem ser da Turma do Charlie Brown (que eu amo!) com um gigante balão do Snoopy todo vestido de inverno, pronto para patinar no gelo rsrs. A parada se inicia na rua ao lado do Central Park e termina em frente a Macys da 34St, onde milhares de pessoas vindas de toda a parte dos EUA aguardam a chegada de Santa Claus debaixo de um letreiro luminoso gigante escrito: I BELIEVE. É como se fosse um “Boas-vindas” para o Natal.

Não se sabe muito bem no que os americanos acreditam. Dias antes do Natal, saí com duas amigas japonesas. Uma delas mora em Tokio e só passava as ferias aqui em NY. De repente Mari (o nome dela) me pergunta se sou cristã, ao q estranho a pergunta, por que em NY ninguem fala sobre religião... é como um “assunto proibido”, ao que respondo – sim, sou cristã, porque? Ela sorriu e disse “nada não, é que vi ali enfeites de natal e pensei: christmas – Christ...."

Bem lembrado. Sorri e concordei: sim, o Natal é uma festa cristã ;} – em minha mente: “pelo menos, should be...”.

Três semanas após o Thanks Given, chega o Natal e “já deu no New York Times” que Papai Noel nasceu em NYC! A cidade que já é normalmente cheia, fica intrafegável. Turistas do mundo inteiro vem para ver a Big Tree do Rockfeller Center, a Big Snow da quinta avenida e a Big Sale do dia 26!

Dizem que no Brasil temos muitos feriados, mas não vi muita diferença aqui. Claro, aqui os devotos de Nossa Senhora do A, do B, do C e do Ó não desfrutam de feriados, e nem se tem tantos santos como no Brasil... na verdade, outros ídolos ocupam o mais elevado lugar nos altares americanos. O consumo sem dúvida é o mais poderoso deles. Assim, o ano aqui se encerra, com 3 grandes feriados que conseguem parar a “cidade que nao dorme”, e dois deles dias santos: Thanks Given, Christmas e New Year. *O próximo promete, se não um reavivamento de qualquer fé genuína, uma oportunidade de pensar em algum outro valor que não seja o monetário.

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*January, 19. Martin Lutter King Jr. Day.