sábado, 3 de abril de 2010

Easter - Páscoa - Pessach - Passagem...

Ilustra: Norman ever...


Meu novo quarto é legal! Beeem pequenininho... Mas pra quê preciso maior? Cabendo o meu corpo estirado é o que importa. E ele cabe legal. A cama é boa!
A dona da casa é uma cearense chamada Maria. Ela mora aqui ha mais de 30 anos. Seu marido fugiu com a melhor amiga e a deixou sozinha cuidando dos 6, isso, seis! Filhos. Ela trabalha como faxineira, como milhares de brasileiras aqui, e... "housekipers" aqui ganham um justo salário. Conseguiu criar os seis filhos e comprou uma big casa. Os filhos casaram, saíram de casa e agora ela aluga os quartos para estudantes. Uma forma que encontrou para não ficar muito sozinha e ganhar uma grana extra.
Meu quartinho... tem cortinas vermelhas, paredes amarelas e uma cestinha azul para roupa suja. A cidade se chama Lindyhust. Hoje a Maria achou que passo muito tempo sozinha e sismou de me levar na casa de uma das filhas para um cafezinho. Quando chego lá, uma TV Hi definition está ligada na maldita Rede Globo! Que novela idiota é essa do Manoel Carlos?! Meus Deus!! O cara vive em que planeta pra escrever aquilo? E pior! Maldade por maldade, prefiro mil vezes “a vida como ela é” nas letras de Nelson Rodrigues. E depois ainda assistiram a insanidade do Zorra Total! O que é isso que chamam de comédia nacional? A verdade é que me senti mal por não conseguir ver essas coisas e preferir ficar sozinha no silencio do meu quartinho em Lindyhurst. Que tipo de pessoa chata me tornei? Nem sei o que pensar...
Meu novo quarto, tem um estreito armário de duas portinhas, onde tudo coube (roupas, sapatos, algumas caixas), vi a multiplicação dos espaços. Será que meu armário se expande? É.. decidi ficar mais tempo do que o planejado. E como havia acertado com minha tia, ficar só seis meses na casa dela, precisei “capar o gato” no sétimo... – que expressão é essa “capar o gato”? coitado do pobre... -. Vim parar aqui em Lindyhurst (gosto desse nome) com a dona Maria que é uma pessoa impressionantemente boa. Se o que aconteceu com ela, tivesse acontecido comigo... Não sei, acho que “capava o gato” LITERALMENTE e não confiaria mais em ninguém. Ela não. Encarou “a vida como ela é” e hoje vive bem com seus 07 netos. Não mais com os 6 filhos... Um, o mais novo, passe away fazem 9 anos hoje. Ela me disse isso, assim, olhando para o fundo da xícara de café preto na mesa da cozinha - não sei se para esconder os olhos marejados ou se realmente o fundo da xícara lhe abria uma janela para o passado... - que para ela, é como se fosse ontem. Ainda sofre. Mas o fato é que continuou, a vida, confiando em Deus e no mundo. Gosto disso.